O alerta importante vem de pesquisadores da University College London. Eles analisaram dados semanais de 8 hospitais em tempo real e descobriram uma redução de 76% nos encaminhamentos urgentes de pessoas com suspeita de câncer, além de uma queda de 60% nos agendamentos de quimioterapia, em comparação com o período anterior à disseminação da Covid-19.
Os cientistas calculam que, nos próximos 12 meses, a Inglaterra pode encarar 6.270 mortes adicionais entre pacientes com novo diagnóstico de câncer, o que dá um aumento de aproximadamente 20%. Ao incluir nessa conta as pessoas que já enfrentam um tumor, o número de óbitos adicionais saltaria para 17.915.
O mesmo cenário preocupante foi observado nos Estados Unidos. Lá, uma empresa chamada Epic, fabricante de registros médicos eletrônicos, notou que as consultas para exames de câncer de colo de útero, cólon e câncer de mama despencaram entre 86 e 94% em março em comparação aos agendamentos ocorridos nos três anos anteriores ao primeiro caso de Covid-19 confirmado no país.
E por aqui não tem sido diferente: a Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama) conduziu um levantamento com a participação de 30 ONGs associadas. O relatório mostrou que, em 25 cidades, as maiores queixas das pacientes têm sido o cancelamento de consultas (32,3%) e de cirurgias (22,6%), além da falta de data disponível para exames de diagnóstico (16,1%).
Além disso, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e a Sociedade Brasileira de Patologia divulgaram que de 50 a 90 mil brasileiros podem ter deixado de receber a confirmação do câncer nos dois primeiros meses de pandemia.
Os números comprovam a diferença: entre 11 de março e 11 de maio de 2020, a rede pública de São Paulo contabilizou 5.940 biópsias. No mesmo período de 2019, aconteceram 22.680. Ainda do ano passado para cá, um centro de referência no Ceará computou a queda de 18.419 para 4.993 biópsias. Aqui em Minas, foi registrada uma redução de 8.402 para 1.676.
Por causa do isolamento social que precisou ser adotado em todos os setores da sociedade para frear o contágio do novo coronavírus, muitas pessoas que fariam exames de rastreamento oncológico deixaram de realizá-los. E eu falo de procedimentos importantes e até simples como mamografia, papanicolau, toque retal, tomografia de pulmão e colonoscopia, por exemplo.
E isso é extremamente preocupante porque, como já sabemos, a demora para realizar consultas e exames pode significar um atraso na descoberta do câncer. E nesse contexto, muitos tumores podem ser diagnosticados em fase mais avançada do que aconteceria normalmente. Isso dificulta o tratamento e reduz as chances de cura, especialmente quando o câncer é o colorretal.
Em casos em que o câncer já foi diagnosticado, é ainda pior. Com a redução de leitos e serviços médicos e até com a preferência de muitos pacientes em ficarem longe dos hospitais nesse momento, os índices de mortalidade podem subir, e é por isso que o tratamento precisa continuar apesar de toda a circunstância.
Se você já foi diagnosticado, estava e tratamento o pausou por causa da pandemia, por favor, volte o quanto antes. Todos nós, médicos, entendemos e compreendemos totalmente o seu receio, mas todos os hospitais têm tomado medidas rígidas de controle para manter os pacientes e até os próprios profissionais em segurança.
E se você estava com algum exame agendado, mas adiou por causa da quarentena, por favor, reconsidere e remarque o procedimento. Dependendo do caso, do histórico e dos sintomas, a sua saúde pode correr algum risco se o rastreamento não for realizado.
Tome as precauções, escolha um lugar de confiança e faça os seus exames. Confie em nós. O único, total e exclusivo interesse dos médicos e ver você bem e saudável, vivendo plenamente!