Entenda a influência dos exercícios físicos na composição da microbiota intestinal

Entenda a influência dos exercícios físicos na composição da microbiota intestinal

Todos nós sabemos que as atividades físicas trazem benefícios para a nossa saúde física e mental. Além disso, uma corridinha após o expediente de trabalho pode fazer com que os nossos micróbios do intestino também fiquem em forma.

 

Em nosso intestino, habitam cerca de 100 trilhões de bactérias, fungos e vírus, além de outros organismos que disputam espaço e alimento no nosso trato gastrointestinal. As funções são diversas: desde ajudar a fermentar as fibras alimentares que consumimos nas refeições, até regular o metabolismo da gordura e a síntese de vitaminas. Esses microrganismos interagem com o nosso sistema imunológico, uma vez que ajudam a nos proteger contra agentes invasores.

 

Estudos já apontaram que a diversidade desses inquilinos intestinais é menor em pacientes que sofrem de doenças cardiometabólicas, condições autoimunes e obesidade. 

 

Pesquisas anteriormente realizadas demonstraram que exercícios como correr, andar de bicicleta e exercícios de resistência aumentam a variedade das bactérias intestinais. A combinação de exercícios e alimentação balanceada pode aumentar a população de Faecalibacterium prausnitzii e a produção de butirato em mulheres ativas, muitas vezes com aumento da função intestinal.

 

É o que sugere os estudos conduzidos pelos pesquisadores Jeffrey Woods e Jacob Allen, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos: sair para correr por 30 a 60 minutos ou realizar um breve exercício na esteira da academia pode trazer impactos sobre a quantidade de bactérias produtoras de butirato no intestino, como a Faecalibacterium.

 

No estudo que envolveu 20 mulheres e 12 homens com diversos índices de massa corporal (IMC), os cientistas tentaram determinar se exercícios aeróbicos realizados por seis semanas poderiam alterar os micróbios intestinais de seres humanos adultos que antes eram sedentários.

 

Os participantes da pesquisa fizeram três sessões de exercícios aeróbicos com intensidade moderada a vigorosa semanalmente, seja correndo na esteira ou andando de bicicleta, por 30-60 minutos. 

 

Foram coletadas amostras de sangue e fezes ao longo de todo o estudo. Para isso, a alimentação dos participantes foi controlada para garantir sua consistência antes de cada coleta, limitando também as mudanças causadas pela alimentação sobre os micróbios intestinais.

 

Os resultados apontaram que a quantidade de “produtores de butirato” aumentou com os exercícios, independentemente do índice de massa corporal. Acompanhando as alterações na comunidade microbiana, os participantes magros tiveram aumento dos ácidos graxos de cadeia curta nos seus exames de fezes.

 

Foi possível observar ainda que quando os participantes do estudo retornaram ao seu estilo de vida sedentário nas seis semanas seguintes, os micróbios intestinais dos participantes haviam retornado ao seu estado inicial. Ou seja, embora o exercício possa melhorar a saúde da comunidade bacteriana no intestino, as mudanças são transitórias e reversíveis.

 

Um outro estudo publicado em 2019 pelo Departamento de Clínica Médica da Universidade de Turku, na Finlândia, observou mudanças mais específicas nos microrganismos intestinais de 18 participantes sedentários, que haviam sido diagnosticados com diabetes tipo 2 ou pré-diabetes.

 

Os participantes praticaram exercícios de alta intensidade, como pedalar por 30 segundos, intercalando com minutos de recuperação, ou treinamento contínuo moderado, como andar de bicicleta por 40-60 minutos, três vezes por semana, durante duas semanas.

 

As duas formas de exercício aumentaram a quantidade de bactérias Bacteroidetes, um grupo de bactérias intestinais que participam da decomposição de açúcares e proteínas e levam o sistema imunológico a produzir moléculas anti-inflamatórias no intestino. Baixos níveis dessas bactérias estão associados à Síndrome do Intestino Irritável (SII) e à obesidade.

 

Os treinos também reduziram os níveis de bactérias Clostridium e Blautia. Em altos níveis, essas bactérias podem prejudicar parte do sistema imunológico, aumentando as inflamações.

 

Se exercitar fisicamente também causa mudança no fluxo sanguíneo para o intestino, que pode afetar as células que revestem as paredes do órgão e provocar mudanças nos micróbios. As alterações causadas pelos exercícios também podem gerar mudanças nas bactérias intestinais.

 

Vale ressaltar que as bactérias intestinais podem ajudar a controlar a liberação de hormônios acionada pelo stress relacionado aos exercícios e também ajudar a liberar moléculas que melhoram o humor.

 

À medida que novas pesquisas continuam sendo realizadas a fim de desvendar os segredos do nosso trato gastrointestinal, identificamos novas formas de cuidar da nossa saúde. Há muito o que aprender com os tipos e a duração dos exercícios físicos que podem alterar a composição e o funcionamento da microbiota intestinal.

 

Fonte: BBC News