Ansiedade e depressão e Síndrome do Intestino Irritável: existe relação?

Ansiedade e depressão e Síndrome do Intestino Irritável: existe relação?

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio caracterizado por episódios de desconforto abdominal, dor e alterações no hábito intestinal.

Embora a sua causa exata ainda não tenha sido descoberta, os especialistas acreditam que a síndrome pode estar relacionada às emoções, uma vez que é identificada com frequência em pacientes diagnosticados com ansiedade, depressão e outros transtornos de saúde mental.

Com o passar dos anos e o avanço dos estudos na área, aumentaram-se as evidências – tanto nos consultórios quanto nas pesquisas – de que há uma conexão entre o cérebro e o intestino: um estudo publicado em 2021 pela revista científica Nature Genetic, analisou dados genômicos de 53,4 mil indivíduos com a SII e 433,2 mil pessoas sem a condição, e constatou seis genes que aumentam a vulnerabilidade à doença. Dos seis, quatro deles também estão associados a ansiedade e transtornos de humor.

Outro ponto em comum é a ação do hormônio serotonina. Responsável pela regulagem do ritmo cardíaco, do humor, da memória, sensação de bem-estar, entre outras funções, a serotonina também é parte fundamental na regulação da motilidade (movimentação) do intestino, e boa parte desse neurotransmissor é produzido pelas células enterocromafins do órgão.

Nas últimas duas décadas também foram apresentadas inúmeras descobertas científicas, demonstrando que quando uma pessoa sofre com estresse, ocorre uma alteração intestinal e a composição da microbiota pode ser modificada. De forma inversa, a alteração experimental da microbiota também pode induzir mudanças comportamentais.

Uma inflamação crônica de baixo grau também pode estar desempenhando um papel na fisiopatologia da depressão. A partir dessa informação, investigou-se a possibilidade de haver uma relação entre a inflação intestinal e o estresse. Foi o que pesquisou um grupo de cientistas da Universidade Complutense de Madrid (Espanha) e identificou como o estresse, que é um fator de risco para a depressão, pode produzir um desequilíbrio intestinal.

O estresse pode levar a uma instabilidade na barreira intestinal, e, portanto, à passagem de componentes da parede bacteriana do intestino para a corrente sanguínea e outros órgãos. Estes componentes podem ser tóxicos e desencadear uma resposta inflamatória generalizada.

Esses estudos mostraram que a composição da flora bacteriana permanece alterada em pacientes depressivos, em comparação com a flora de pessoas sem a condição. A pesquisa indica que a diversidade bacteriana diminui em casos de depressão. 

Até o momento, sabe-se que o dano celular oxidativo é maior em pacientes com episódio depressivo ativo. Porém, são necessários mais estudos, para compreender a associação entre a microbiota e a inflamação detectada na depressão.

A prevalência da SII varia entre 10% a 15% e é mais comum em mulheres entre os 30 e 50 anos. Para compreender melhor a condição, é importante ressaltar que não há nenhuma alteração anatômica ou morfológica relacionada à síndrome. Trata-se de uma condição funcional digestiva, portanto é a função que não está indo bem. 

Os sintomas mais comuns associados à SII, são:

  • Desconforto e dor abdominal;
  • Cólica constante;
  • Barriga inchada;
  • Excesso de gases;
  • Períodos de  prisão de ventre;
  • Alteração no aspecto das fezes;
  • Sensação de evacuação incompleta.

A maior dificuldade quando se trata de SII, é a realização do diagnóstico, já que a síndrome é considerada uma disfunção do intestino, que não evolui para outro tipo de doença.

Para confirmar o diagnóstico, os pacientes devem relatar os sintomas por pelo menos 12 semanas seguidas e podem ser necessários a realização de exames laboratoriais e de imagem, como colonoscopia.

Embora não tenha cura, a condição pode ser controlada com medicamentos, que visam aliviar os sintomas mais agudos, e com mudanças nos hábitos: adoção de uma dieta balanceada, prática regular de exercícios físicos e melhora no controle do estresse. É recomendado aos pacientes com a Síndrome do Intestino Irritável, fazer um tratamento multidisciplinar, com acompanhamento médico, psicológico e nutricional.